"Se não fossem as dívidas teria continuado a fazer sexo à borla"
Publicado em 2012-07-02 na categoria Sexo100Tabus / Prostituição


A cientista Brooke Magnanti decidiu trabalhar durante 14 meses como call girl (acompanhante) e posteriormente contava todas as suas experiências num blogue que ficaria famoso chamado «Belle de Jour». A senhora Brooke Magnanti conversou com os jornalistas do jornal Expresso e sem quaisquer tabus sobre o mundo da prostituição de luxo.

Quando chegámos ao bar de hotel procurávamos uma beleza britânica, sensual, com corpo de modelo. Em suma, a imagem aspiracional da call girl de luxo, que durante 14 meses viveu uma vida dupla em Londres e se tornou mundialmente famosa com o blogue "Belle de Jour - O Diário de uma Call Girl em Londres".

Em vez disso, apresentaram-nos uma mulher baixa, com a pele marcada, discreta. Vestido castanho, pelos joelhos, que anunciava um sutiã rosa-choque. A mesma cor que usou para a capa do livro que acaba de lançar, "Homens - Caçá-los, Domá-los, Amá-los".

A exuberância estava nos sapatos, de verniz vermelho. E no escorpião tatuado na perna esquerda. Seis anos depois de ter deixado a prostituição de luxo, da Belle de Jour sobram as memórias que continuam a render-lhe dinheiro. Brooke Magnanti, 34 anos, é hoje uma cientista da Universidade de Bristol que investiga os efeitos da exposição das crianças aos pesticidas.

Sexo para pagar contas

 

Para a maioria das pessoas, o recurso à prostituição é um dos degraus mais baixos que se pode descer enquanto ser humano. Decidiu ser uma prostituta de luxo apenas pelo dinheiro?Para ser honesta, adoro sexo. Mas decidi fazê-lo também pela necessidade de dinheiro. Tinha contas para pagar. Na altura, não estava a conseguir pagar as propinas do meu doutoramento, nem a renda da minha casa. Estava limitada pelo meu estatuto de estudante, que me restringia a trabalhar apenas 15 horas por semana. Eu tenho gosto por sexo, mas se não fossem as dívidas teria continuado a fazer sexo de borla. (risos)

Como lhe ocorreu essa ideia? Eu não acredito que o valor de uma pessoa seja medido pelo seu trabalho. O valor de uma pessoa está no que é enquanto ser humano e cidadão.
Juntou o útil ao agradável. Foi interessante perceber que o sexo em troco de dinheiro era muito diferente do sexo numa relação. É a diferença entre fazer um café para mim própria em casa ou fazer um café numa coffee shop para clientes. Pode fazê-lo com o mesmo cuidado com que faz em casa, mas não é para o seu gozo pessoal. Eu posso estar a fazer sexo e a pensar ao mesmo tempo que horas são, o que tenho de fazer na universidade...

Quer dizer que não sentia prazer quando praticava sexo com os seus clientes? Tinha prazer no trabalho bem feito. Não é o mesmo tipo de prazer quando se tem sexo com alguém que se escolhe. Nunca tive um orgasmo com um cliente. Nessas situações a minha cabeça estava em tantos outros lugares. Preciso de estar na situação por inteiro para que isso aconteça. Não consigo quando estou a trabalhar.

Mas no trabalho pode ter-se prazer...
Sim. Mas são prazeres diferentes. Como disse há pouco, é a diferença entre cozinhar em casa e ser um chefe num restaurante. A minha experiência como não foi uma odisseia de auto-satisfação. Foram serviços que eu prestava a clientes.

Conselhos para mulheres 

Considera que tem muito a ensinar às mulheres? A ideia para este meu novo livro nasceu do facto de receber muitos de mulheres solteiras a pedirem-me conselhos. Perguntavam-me acerca de encontros a partir da Internet, speed-dating, que cheguei na minha vida privada a experimentar muito. Posso ter dificuldade em dizer às pessoas o que devem fazer num encontro, mas julgo que posso aconselhar naquilo que não devem fazer. 

Porque acha importante escrever um livro que ensina as mulheres a caçar, a domar e a amar os homens? Em Inglaterra, as mulheres são pressionadas a atrair os homens, a comportar-se de uma maneira que elas acham que os homens vão gostar. Enquanto escrevi este livro, li muitos guias de encontros amorosos que ensinavam a enganar um homem a fazê-lo acreditar que era uma pessoa que na verdade não é. Percebi pela minha experiência pessoal que era mais bem sucedida quando me apresentava de forma autêntica, tal e qual como sou.

Que tipo de conselhos pode dar às mulheres? Sejam entusiásticas na cama. Não importa o que façam desde que tirem gozo do que fizerem. Na minha opinião, se fizer sexo só para agradar ao seu homem, então estará a fazer o mesmo que uma prostituta, apenas não será paga. Numa relação deve fazer o que tem vontade.

É da opinião que certas mulheres não ousam demasiado na cama com receio de serem desconsideradas pelo homem? Talvez. Alguns dos clientes contratavam-me porque queriam experimentar coisas que nunca tinham feito antes. Outros vinham porque a relação sexual com a companheira tinha perdido qualidade. Por vezes, a mulher deixa de praticar determinados atos porque julga que tem de se comportar de determinada maneira. Não falam sobre o assunto e ele acaba por recorrer a uma call girl. É no momento em que as pessoas deixam de partilhar com o parceiro o que são e o que querem que as relações acabam.

Que conselhos dá às mulheres para manter o fogo na cama? Devem saber exatamente o que as excita, dizê-lo ao companheiro e não se sentir embaraçadas com isso.

Dicas para os homens 

 

E aos homens? Eles precisam de se sentir à vontade e de ter confiança para dizer o que gostam de fazer na cama, não importa quão louco seja o desejo ou a fantasia sexual.

Pode partilhar alguns truques que resultam na cama? Isso custa dinheiro.

Considera que há muitos tabus entre os casais no que toca ao sexo? Deixem-me contar-vos uma história. Tenho um amigo de longa data que se chama Nick. Ele é muito kinky (ousado, louco) na cama. Chegámos a dormir juntos, mas éramos acima de tudo amigos. Ele é honesto quanto aos seus gostos. Quando combina encontros com mulheres comunica-lhes logo o que quer. Pede-lhes que venham muito maquilhadas e produzidas. Diz-lhes que gosta de sujidade e bagunça na cama, não usa rodeios, não faz de conta, não dissimula as suas vontades. Por ser assim, consegue o que quer.

É esse o segredo para o sucesso de uma relação saudável? Sim. Continuem a comunicar.

Como conheceu o seu atual parceiro? Coloquei um anúncio na Internet onde escrevi: "Já passei por inúmeros encontros que correram mesmo mal. Não quero apenas ser a namorada de alguém, estou à procura de um homem quente que tenha sexo comigo de uma forma normal. De acordo com os meus requisitos, terá de ter boa aparência despido e gostar do comediante Bill Murray."

Humor na cama 

 

Gosta de usar o humor na cama? Sem dúvida. Durante o ato sexual, quando os corpos estão suados, há muitas posições que provocam sons que parecem gases. Não se embarace com isso. Dê uma gargalhada e continue. É engraçado. O segredo está na espontaneidade.

Ter muita experiência sexual, com vários parceiros(as) é o segredo para se ser bom de cama? É controverso. Eu contei ao meu atual parceiro que me tinha deitado com cerca de 400 homens. Ele riu, abriu a sua mão e começou a contar com os dedos as suas anteriores parceiras. Apesar disso, é fantástico na cama. Fazer sexo pode dar experiência, mas a qualidade é que conta. Aprendi muito na cama com os homens com quem estive durante muitos anos.

Não tem aparência de modelo. Que qualidades a tornaram uma call girlde luxo? O meu passado académico ajudou muito. Eu podia ser a companheira, disposta a falar. E os homens gostam muito de falar. Antes, durante e depois da relação sexual. Alguns pagavam-me apenas para conversar.

A primeira vez

 

Lembra-se com quem foi a sua primeira experiência sexual paga? Era um cliente habitual, cinquentão, que vivia em Londres, bastante educado. Foi uma ótima primeira experiência. Mostrou-me como um cliente devia agir comigo. Como este tipo de encontros deviam ser.

Como se sentiu depois? Senti-me bem. Entendi que era uma coisa que podia fazer bem e com toda a naturalidade.

A partir daí tornou-se estranho ou excitante estar habitualmente com diferentes corpos, diferentes mãos, diferentes sexos? Estranho. Quando temos uma relação, perdemos as primeiras semanas a tentar perceber como é essa pessoa. Neste caso elas estão sempre a mudar, nunca percebemos como realmente são.

Então não era penoso? Não. Era interessante. Sou uma cientista. Gosto da palavra estranheza. O estranho pode provocar um certo bom resultado.

Uma experiência bizarra 

 

Qual a experiência mais bizarra por que passou como prostituta de luxo? Foi com um homem que levou um par de óculos para eu usar e quis masturbar-se para eles. Depois quis que eu abanasse os óculos.

Qual é o fetiche mais comum nos homens? Quanto mais roupa usamos, mais gostam de nós. Os homens gostam de muitas camadas, de cuecas gigantes, de muita roupa para tirar.

Participou em orgias? Fora do trabalho. Não foi nada de extraordinário. Era demasiada gente, demasiada confusão.

Recebia 300 libras por hora. Quando é que ganhava por mês? Era o suficiente para pagar a renda, as roupas, viver bem. Londres é uma cidade cara.

Porque é que terminou o trabalho ao fim de 14 meses? Era investigadora, estava a terminar o doutoramento e queria continuar nesse ramo. Não era fácil explicar ao chefe porque desaparecia sempre à hora de almoço (risos).

Quando revelou quem era, o porta-voz da Universidade de Bristol chegou a fazer um comunicado em que dizia que o seu passado não influenciava em nada a sua relação com a instituição. Surpreendeu-a? Foi muito importante. Embora o mundo universitário seja conservador, o nosso trabalho, a nossa investigação é muito mais importante do que tudo o resto. Desde que o meu chefe esteja contente com o trabalho que faço, o resto não interessa.

É casada. Não é aborrecido ter sempre o mesmo parceiro? Não estamos casados assim há tanto tempo. A relação é recente. Porque é que não me perguntam isso daqui por dez anos? (risos) Por agora sou mulher de um homem só.

(Texto original publicado na Revista Única da edição do Expresso de 26 de Junho de 2010)

in, Expresso

 
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