After sex: Por que o depois é mais importante do que pensamos
Publicado em 2015-02-03 na categoria SexAppeal / Casal e o sexo


Podemos afirmar que o sexo se divide em três partes, o antes, o durante e o após. A primeira parte é caprichada por uns e avançada por outros, mas a terceira então é totalmente negligenciada. Descuidamos demais dessa parte pós-sexo centrando-nos somente nas preliminares? O que fazer na fase do "pillow talk": para começar, é preciso evitar o “questionário”.

As preliminares e o acto sexual foram minuciosamente estudados pela ciência, os sexólogos e a literatura; entretanto, muito pouco foi dito sobre o comportamento pós-coito, com excepção do cinema que se encarregou de ressaltar, várias vezes, que a etiqueta exige fumar um cigarro, ainda que com a lei antifumo é possível que as coisas tenham mudado.

Com tão poucas referências, vemos que, após dar por finalizado o corpo a corpo sem informação disponível a respeito, é preciso improvisar, voltar ao mundo real e enfrentar a dura verticalidade. Por isso, essa é uma das tarefas mais difíceis do sexo, uma matéria pendente que pode arruinar uma performance excelente na cama ou, pelo contrário, nos fazer esquecer de um rendimento médio-baixo, e reescrever o que aconteceu poucos minutos antes com a mesma benevolência com a qual alguns juízes despacham os casos de corrupção política. Se as preliminares nos preparam fisiologicamente para o sexo, o pós-sexo nos predispõe psicológica e mentalmente para a próxima relação. Um trabalho mais a longo prazo e, portanto, mais difícil.

O bom amante, dizia uma revista francesa, deve sê-lo antes, durante e depois. Porque o depois é o que assegura que acontecerá um amanhã e que a pessoa será capaz de apresentar-se para um segundo round. Mas não é de estranhar que nesta época, onde impera a filosofia de usar e tirar, essa última fase esteja descuidada. Pegue o dinheiro e vá embora, muitos pensam. Enquanto os que ficam oscilam, geralmente, entre os polos opostos: as telenovelas latino-americanas, com overdose de açúcar, e o cinema francês, com os seus longos silêncios, planos intermináveis, monossílabos e os inevitáveis cigarros.

Para que se preocupar, muitos/as pensarão, o mal – ou o bem – já está feito. Pela mesma regra de três poderíamos pensar que o aprés sky é algo banal ou inútil e o que as pessoas realmente querem quando vão a uma pista de esqui é esquiar, comer e dormir. Esquecendo que, provavelmente, esta seja a modalidade desportiva mais praticada na neve.

A maior parte da literatura e a informação sobre o que deveria ser um bom aprés sex está carregada de tópicos e lugares comuns, sem dar-se conta de que as mulheres já não vêm de Vénus e nem os homens, de Marte. Mas quase todo mundo concorda que as mulheres querem carinhos e mimos e eles ficam com sono. Algo péssimo, que devem evitar a todo custo para que a companheira não tire a conclusão de que foi para cama, de novo, com outro mentecapto. Enquanto eles pensam em comida, elas gostam de falar e falar, por isso uma revista masculina aconselhou os seus leitores a fazerem perguntas abertas às mulheres, para que elas pudessem falar com gosto, enquanto eles relaxavam a pensar em "bobagens" ou nos mares da Flórida.

Como conta a revista Psychology Today, desde o século passado a ciência começou a interessar-se por esse período da atividade sexual. Em 1970, os psicólogos James Halpern e Mark Sherman realizaram um estudo entre mais de 250 norte-americanos; o resultado foi o livro Afterplay: A Key to Intimacy (Pós-sexo: A Chave para a Intimidade), que girava em torno da ideia de que o que fazemos ou deixamos de fazer depois do sexo é uma parte fundamental. Os participantes nesse experimento, sem distinção de género, expuseram o seu desejo de prolongar o pós-sexo, ou como os americanos o chamam, pillow talk, e estabeleceu-se uma relação entre a duração do período pós-coito e a satisfação na relação.

Mas os que mais estudaram o fim da actividade sexual foram os psicólogos evolucionistas Daniel Kruger e Susan Hughes, da Universidade de Michigan e do Albright College da Pensilvânia, respectivamente. Segundo conta a revista digital Alternet, em um artigo intitulado Do men and women want diferente things after sex? (Homens e mulheres querem coisas diferentes depois do sexo?), no ano de 2011 os dois especialistas publicaram o resultado de um estudo sobre o comportamento pós-coito.

Segundo eles, as actividades preferidas pelos homens são comer, preparar uma bebida, fumar e pedir favores à sua companheira – faz isto ou traz-me aquilo –. Elas, entretanto, dão mais importância a comportamentos relacionados com a intimidade, os abraços, carícias e as manifestações de amor. Mesmo que isso apenas confirme a teoria geral entre homens e mulheres, Kruger e Hughes chegaram também à conclusão de que não existem diferenças entre ambos os sexos na hora de quem dorme antes, apesar de que no imaginário colectivo a ideia de quem fecha os olhos primeiro seja ele.

Conseguir ou não o orgasmo parece ser o que mais marca a diferença entre o comportamento final, já que o coquetel de hormonas que o clímax acarreta – oxitocina, prolactina, endorfinas – é o responsável por nos sentirmos felizes, amigáveis, falantes, relaxados e dispostos a fechar os olhos o quanto antes. Segundo nos diz a revista, o resultado dessa química deixa-nos até mesmo “momentaneamente menos atractivos para o nosso companheiro”, para conseguirmos respirar.

Segundo diz Kruger no artigo, “as diferenças relativas ao orgasmo podem ser como atirar sal para a ferida”. Os efeitos psicológicos das hormonas e as suas sensações de bem-estar, de ter tido um sexo equitativo, são muito importantes e deveriam ser levadas em conta antes de começar a fazer conclusões relacionadas às diferenças de géneros.

O sal na ferida, de Kruger, menciona que o pós-sexo é o momento em que geralmente encaramos os nossos problemas e deficiências, quando os monstros da vida sexual imperfeita aparecem para nos deixar tristes, aborrecidos ou com medo. É como o Natal, um período em que todos deveríamos estar mais felizes e no qual qualquer pequena tristeza aumenta exponencialmente. É como quando Adão e Eva, após comerem a fruta proibida, sentiram vergonha pela primeira vez e deram-se conta de que estavam nus. É, definitivamente, o detector de mentiras do sexo, quando o outro vê você como realmente é, sem maquiagem ou photoshop. Por isso, a edição inglesa da revista Marie Claire diz que “dormir imediatamente depois de uma relação sexual é um sinal de que o casal tem uma relação forte e significativa”. Os fantasmas são quase sempre os culpados por nos mantermos acordados.

Pouco se sabe sobre o que deveria ser um bom after sex, excepto que, se for um coquetel – e existe um com esse nome –, os ingredientes são: vodca, licor de banana e sumo de laranja. Mas o que se intui é que pode ser um mal e ponto, e as atitudes que podem contribuir com isso. Para começar, é preciso evitar acima de tudo o “questionário”: perguntas, rankings, comparações, tamanhos... Algo a que os homens são muito adeptos pois dessa forma buscam afagar o ego. “Gostaste?”, “O meu é maior do que o do teu ex?” – se lhes disser que não, é provável que continue “mas é mais grosso, sim ou não?” –.

Além de chato – acreditem, trabalhei anos a realizar pesquisas – e egocêntrico, essa enxurrada de perguntas não diz outra coisa a não ser um imenso desconhecimento em matéria sexual, já que a pessoa deveria saber se o outro gostou ou não. Sem contar que, em muitas ocasiões, a insistência obriga a dizer uma mentira piedosa como mal menor. Uma pessoa desajeitada me perguntou ao acabar quantos orgasmos eu tive. Respondi que perdi a conta.

No extremo oposto estão os inseguros, que pedem perdão e desculpas – geralmente com razão –, mas que insistem em se autoflagelar, sem se dar conta de que não fazem outra coisa a não ser propagandear e aumentar as suas falhas. Não nos podemos esquecer dos amantes da limpeza, que desperdiçam esses valiosos momentos ficando horas no banho, a recolher preservativos e brinquedos do chão e a colocar as suas roupas em ordem e objectos pessoais como se fossem sair de um voo da Ryanair.

Os ursinhos carinhosos tendem a ser muito afectuosos e compartilhar cumprimentos, às vezes exagerados e inacreditáveis, o que os transforma automaticamente em piada. Ainda que quase todos nós somos Charlie, alguns/as podem não o ser e não aceitar a brincadeira. No lado oposto estão os que voltam à realidade e adoptam, de maneira um tanto brusca, o tom de voz não erótico, ou seja, o que utilizam no bar para pedir a gritos outra cerveja enquanto passa futebol na tv e uma das equipes acaba de marcar um golo.

Eu diria que qualquer conversa está permitida excepto falar de outros parceiros sexuais e estabelecer comparações; começar a classificar a relação, especialmente se é a primeira vez, e fazer perguntas filosóficas e existenciais do tipo quem somos?, de onde viemos?, para onde vamos?.

Por último, falar de temas sérios quando a relação está má. Isso é melhor deixar para outro momento e localização geográfica. Finalmente, as redes sociais apresentam um novo plano pós-sexo para os mais exibicionistas, fazer uma selfie-pós-sexo e publicá-la na rede. Eu continuo a defender que o "não gosto" esteja incluído também no leque de opções de resposta. Como dizia uma piada: “O que é que tu achas da execução do guitarrista – Por mim, que ele seja executado”.

 
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