As definições do lesbianismo
Publicado em 2012-07-31 na categoria SexCult / Lesbianismo


Sobre este tópico, importa desde logo de ressaltar rapidamente alguns aspectos sobre o lesbianismo, uma vez que o consideramos diferente da homossexualidade masculina, partindo de um pressuposto básico de que homens e mulheres se relacionam e se apropriam da sua sexualidade de maneiras perfeitamente distintas.

Houve um tempo em que lésbica era a mulher nascida em Lesbos, ilha grega na Ásia Menor, marcada pela presença de Safo, poetisa de talento excepcional cuja inspiração era insuflada pela paixão e desejo pelas mulheres.

Safo, uma apaixonada pelas mulheres, pelo feminino, escrevia poesias sentimentais e sensíveis, onde expunha todo o seu sofrimento em não concretizar aqueles sentimentos tão profundos. O seu amor foi ridicularizado pelos poetas locais e naquela época, a vida sexual das mulheres não era conhecida na Grécia.

Navarro-Swain, (2004: 29) faz uma consideração importante e levanta uma questão pertinente: “Se a ciência hoje, como vimos, abre a possibilidade para o questionamento do "natural" da relação heterossexual, qual a latitude do espaço vivido pelo lesbianismo, que questões suscita à ordem social, em que rede de imagens e representações se inserem as pessoas que se dizem lésbicas ou que não se afirmam, mas são vistas como tal?”

Convoco Foucault neste momento, pois, defendia a idéia de um dispositivo da sexualidade que ele considerava “uma rede de investimentos políticos, económicos, institucionais, científicos, religiosos, jurídicos, educacionais que trazem ao centro do social o sexo e a sexualidade. Podemos observar no quotidiano de nossas vidas a importância máxima que adquirem”. (FOUCAULT, 1988: 244). Conforme o autor, este mecanismo, de características conscientes e inconscientes, intencionais ou aleatórias, faz do sexo um normatizador dos comportamentos humanos. Explica assim os estímulos e desejos sexuais.

Mas ainda não me bastando, aprofundo-me na questão sobre a definição de Lesbianismo, pois, falar de sexualidade feminina é, ainda, reduzida à discutir a vagina, “como se fosse a essência e a totalidade do sexo da mulher”. Sexualidade feminina é, limitadamente, uma tentativa de desvendar os segredos das zonas erógenas femininas como clitóris, pequenos lábios, grandes lábios.

Pontos “G” são estudados minuciosamente para se descobrir a explicação do prazer ou o porquê da mulher ter mais dificuldade em obtê-lo, como se fosse o único recurso dos homens para conquistar uma mulher. Penso que o ponto “G” foi uma criação masculina para responsabilizar a mulher de qualquer dificuldade sexual que eles apresentam, e portanto, não admitirem e não assumem as suas responsabilidades no acto sexual.

Barret, (1990: 257) também faz a sua consideração sobre a caricatura masculina dizendo que “é possível que a rigidez da divisão binária da sexualidade humana faça com que a atração por outras mulheres crie a necessidade de adoptar características masculinas, físicas e comportamentais, tosca forma de encenar a sedução”. Ou seja, percebemos que o universo masculino é ditatorial, impositivo e adoptado como e correto pelas mulheres. Oras, não seria este o factor preponderante para que o machismo ainda persista? Não seriam então, as próprias mulheres que sustentam este machismo e acabam aniquilando a feminilidade?

Mas vou encerrar esta matéria, incitando algumas reflexões no leitor, apropriando-me de Navarro-Swain, (2004:81), atentem-se: “Se o lesbianismo se define primeiramente enquanto prática sexual, a sexualidade lésbica propriamente dita padece de alguns mitos e lugares comuns. Vimos que, no imaginário social, as representações das lesbianas se fazem a partir de um desvio de conduta ou de preferência em relação à "verdadeira mulher".

Esta, heterossexual por natureza, seria dotada ou de uma fraca pulsão sexual, compensada pela maternidade, ou de uma poderosa sexualidade, as femmes fatales, prostitutas, devoradoras de homens, destruidoras de lares. Duas faces da mesma moeda. O sexo a serviço da reprodução ou do prazer masculino. Estas são as imagens com as quais convivemos: a sujeição das mulheres à violência e à utilização de seus corpos, em nome da ordem, do "natural", do divino, talvez”.

Parece-me que a relação das mulheres na sociedade está atrelada à reprodução, à fecundação, o que ainda a coloca numa posição de submissão, enquanto que o seu reconhecimento como um ser sexual é negligenciado e boicotado, muito por causa do sistema patriarcal. Esta influência é tão severa que até mesmo o desejo lésbico é impregnado por traços e características masculinas. Veremos mais adiante, historicamente, como se foi delineando as posições de masculino e feminino e como as mulheres eram discriminadas, a ponto de serem consideradas mero objetos de reprodução.

O importante é mencionar e deixar bem claro que devemos buscar sempre nossas realizações sexuais, partindo das nossas referências e orientações sexuais, mas sem a necessidade de nos influenciarmos, impregnar ou nos sujeitar a algumas exigências sociais. Sexualidade necessita de liberdade, poder de escolha e principalmente, individuação.

 
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