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O ponto C Publicado em 2012-07-04 na categoria ExtraSex / SexoComSentidos
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Já alguma vez ouviram falar ou leram alguma coisa sobre o «ponto C»? Se este assunto é uma perfeita novidade para vocês, a leitura atenta deste post poderá elucidar-vos-à como é que a neurociência está a tentar explicar a complexidade dos mecanismos da atração fisica, conquista e cópula entre homens e mulheres — e entre indivíduos do mesmo género... Joana e Pedro estão deitados. Eles acabaram de fazer sexo. Ela sente-se tão feliz, relaxada e conectada a ele que, enquanto estão ali, abraçados, não consegue deixar de imaginar como seria bom se eles namorassem, casassem e tivessem filhos. Enquanto isso, a única coisa em que ele pensa nesse momento é em dormir (talvez também em comer alguma coisa antes). Depois disso, ele já estará preparado para o sexo novamente - seja com Joana ou com outra. Não, Pedro não é um individuo sem sentimentos. O que acontece é que eles estão a sair juntos há cerca de duas semanas e essa é a primeira vez que vão para a cama. Os seus cérebros ainda não formaram as conexões necessárias para estabelecer uma ligação duradoura - apesar de o de Joana estar mais inclinado a isso. Como acontece com toda mulher, as hormonas de Joana tornam o seu cérebro mais preparado para uma conexão romântica de longo prazo do que o de Pedro, mais apto a perseguir o ato sexual. Um dos responsáveis por essa diferença é a oxitocina, hormona relacionada à ligação afetiva, ativado, entre outras coisas, pelo contato físico. Os níveis dessa substância são maiores no cérebro feminino do que no masculino (podem ser dez vezes menor nos homens); assim como os níveis de testosterona (o impulsionador do desejo sexual) são muito maiores nos homens. O único momento em que os níveis de oxitocina masculinos se aproximam dos femininos é durante o orgasmo. Quando ejacula, o homem conecta-se completamente à mulher. As hormonas testosterona e vasopressina (o equivalente da oxitocina para os homens) - que fazem com que o homem alcance o seu objetivo maior na vida, o sexo - perdem espaço para a oxitocina. A substância química predominantemente feminina domina o cérebro masculino por esse curto período. Mas logo os níveis de hormonas ajustam-se (é o tempo daquela dormidinha que Pedro está desejando depois do sexo) e tudo volta ao normal. "Para o cérebro masculino, o romance é um meio de conseguir sexo, enquanto para o feminino, o sexo é um meio mais provável de conseguir um romance", diz o pesquisador Michael Gurian, autor do livro "What Could He Be Thinking? How a Man's Mind Really Works" ("O que ele está pensando? Como a mente masculina funciona"). Gurian diz que uma das razões (instintivas) pelas quais os homens geralmente querem mais sexo do que as mulheres é a busca pelo bem-estar causado pela conexão com outra pessoa - e proporcionado pela oxitocina. "O cérebro humano experimenta uma explosão de alegria quando alcança essa conexão. E, para a bioquímica masculina, a maneira mais rápida é por meio do sexo." Enquanto os homens se sentem completos durante o clímax - totalmente conectados à parceira naquele momento -, para as mulheres é somente o início do processo de vínculo afetivo. Para Pedro, a ligação bioquímica foi estabelecida primordialmente durante o ato sexual. Para Joana, essa conexão foi sendo construída durante o período em que saíram juntos e durante a preparação para a noite romântica. Os seus níveis de oxitocina elevaram-se durante o sexo, mas a quantidade da substância no seu cérebro é tão grande, durante a maior parte do tempo, que, para ela, o ato sexual se encaixa melhor no processo de ligação afetiva de longo prazo. Ela provavelmente dará mais valor ao telefonema do dia seguinte do que ao sexo. Se Pedro vai ligar ou não para Joana no dia seguinte e se os dois irão estabelecer uma relação de longo prazo, casar e ter filhos, como ela está imaginando, vai depender de uma série de fatores. No que diz respeito à biologia (que não é o único fator envolvido), o comportamento nas ligações afetivas é controlado por duas hormonas produzidos na glândula pituitária e no hipotálamo: os já citados oxitocina e a vasopressina. "O cérebro masculino utiliza a vasopressina para os vínculos sociais e a criação dos filhos, enquanto o cérebro feminino utiliza principalmente a oxitocina e o estrogénio. Os homens possuem muito mais receptores para a vasopressina, enquanto as mulheres têm uma quantidade consideravelmente maior para a oxitocina. Para se unir com sucesso a uma parceira romântica, os homens talvez precisem de ambas as neuro-hormonas", diz a neuropsiquiatra Louann Brizendine, autora do livro "Como as Mulheres Pensam". Como essa mágica acontece no cérebro humano ainda não se pode afirmar com precisão, mas um estudo com arganazes-do-campo (relatado por Brizendine em seu livro), uma espécie de mamífero roedor, dá algumas pistas. Assim como os humanos, os arganazes-do-campo são tomados pela paixão física quando se encontram pela primeira vez. E passam dois dias entregues ao sexo praticamente sem descanso. Mas, diferentemente dos humanos, as alterações químicas nos cérebros desses animais podem ser estudadas diretamente enquanto eles se divertem. E o que esses estudos mostram é que o sexo libera grandes quantidades de oxitocina no cérebro das fêmeas e de vasopressina no dos machos. Essas duas neuro-hormonas aumentam os níveis de dopamina - a substância química do prazer -, que faz com que esses roedores tenham olhos somente um para o outro.
Essa espécie de cola neuroquímica faz com que o casal se una para sempre. Para manter esses efeitos em longo prazo, o sistema cerebral de ligação afetiva necessita da ativação repetida, quase diária, por meio da oxitocina, estimulada pela proximidade e pelo toque. Os machos precisam ser tocados duas ou três vezes com mais frequência que as fêmeas para manter os mesmos níveis de oxitocina, segundo estudo da pesquisadora sueca Kerstin Uvnäs-Moberg. Sem os toques frequentes, os circuitos e receptores cerebrais da dopamina e da oxitocina sentem todo o poder da privação. Os casais podem não perceber o quanto dependem da presença física do parceiro até serem separados por um tempo. A oxitocina nos seus cérebros faz com que um procure o outro, repetidamente, atrás de prazer, conforto e calma. Outros estudos com arganazes-do-campo também revelaram as diferenças entre machos e fêmeas no que se refere à ligação afetiva. Para as garotas dessa espécie, a união com o parceiro funciona melhor em condições de baixo stresse. Para os garotos, alto estresse tem melhor resultado. Pesquisadores da Universidade de Maryland descobriram que, se um arganaz-do-campo fêmea é submetida a uma situação stressante, não se unirá a um macho depois de copular com ele. Se um arganaz-do-campo macho estiver stressado, entretanto, unir-se-á à primeira fêmea disponível que encontrar. Em humanos, os circuitos masculinos do amor também obtêm um impulso adicional quando os seus níveis de stresse estão altos. Depois de um intenso desafio físico, por exemplo, os homens unir-se-ão rápida e sexualmente com a primeira mulher disposta que avistarem. Já as mulheres irão desprezar expressões de afeto e desejo se estiverem stressadas. "O motivo para isso pode ser o fato de que a hormona do stresse, o cortisol, bloqueia a ação da oxitocina no cérebro feminino, desligando abruptamente o desejo de uma mulher por sexo e toques físicos. Para ela, nove meses de gestação seguidos da obrigação de cuidar de um bebé sob condições stressantes fazem menos sentido do que para ele, que talvez tenha de arcar somente com a rápida descarga de esperma", diz Brizendine. Joana e Pedro conheceram-se numa danceteria. Ela estava no bar conversando com uma amiga quando viu um homem alto, com rosto tipicamente masculino, traços fortes, maxilar grande, bronzeado e muito bem vestido (características identificadas pelo cérebro feminino como as de um bom provedor). Ele também já havia notado a morena de cintura fina, quadris largos e rosto perfeito (características identificadas pelo cérebro como as de uma fêmea fértil, com boa saúde, ótima reprodutora) e caminhava em direção a ela. "A química de longo e curto prazo entre duas pessoas pode parecer acidental, mas a realidade é que os nossos cérebros são pré-programados para reconhecê-la. Elas conduzem-nos subtil, mas firmemente na direção de parceiros que podem aumentar as nossas chances na corrida reprodutiva", diz Brizendine. Os dois conversaram e dançaram a noite inteira, enquanto os seus cérebros eram inundados pela testosterona, a hormona que abastece o desejo sexual. Mas, apesar disso, Joana se despediu e disse que precisava ir. Pedro, mais do que depressa, pediu o seu telefone. Ele não poderia desperdiçar essa chance de fazer sexo. |
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