A gordinha I
Publicado em 2013-04-15 na categoria Contos eróticos / Virgens


Natália jamais sentiu-se bem consigo mesmo. Achava-se gorda e sem graça. Olhava para as suas amigas e o que via era apenas a superfície (que ela achava ser o ideal de todos os homens); meninas esbeltas, com curvas subtis e delineadas por algum mestre divino que as concebia com o único propósito de tornar as demais infelizes, tristes e desesperançadas. De facto, para Natália, aquele era o arquétipo ideal, a imagem que ela sempre almejara ser, mas que sabia bem, jamais seria.

Evitava espelhos a todo o custo! Roupas justas! Nem pensar! Frequentar as lojas de marca mais badaladas do shopping era a maior tortura a qual era obrigada quando saía com as suas amigas – todas magras e atraentes – tornando-a mais triste e infeliz. Voltava para casa e apenas pensava que um copo de gelado seria a única forma de afogar as suas mágoas.

Dia após dia, apenas a certeza de que nada iria mudar. Ela continuaria gorda, sem graça e infeliz. As poucas discotecas que frequentava eram outra forma mais sofisticada de tortura. Mulheres lindas, usando roupas que lhe caíam perfeitamente, sentindo milhares de pares de olhos masculinos gulosos seguirem-nas para todos os lados faziam Natália detestar o momento em que aceitara o convite para acompanhá-las naquele evento detestável em que ela ficava em algum canto, esquecida, ignorada ouvindo as músicas que eram tocadas e pensando que o melhor a fazer era ter ficado em casa assistindo algo na televisão e comer pipoca de micro-ondas.

Para Natália todos os dias pareciam iguais e seriam iguais até ao último. Nada mais lhe restava do que deixar o tempo passar através dela sem que alguma coisa pudesse ser realmente aproveitada. As vezes sentia vontade de chorar. E quando o fazia era um acto solitário, escondido de tudo e de todos. Era uma válvula de escape que lhe permitia aguentar um quotidiano sem graça e sem sentido.

As aulas não tinham nenhum atractivo (até mesmo porque sempre fora uma boa aluna com boas notas), e mesmo aqueles professores bonitos e cheios de energia olhavam para ela com a mesma indiferença dos demais. Ela era apenas um referencial quando se tratava de cobrar dedicação dos demais. Apenas isso! Nada mais.

Desportos? Sem chance! Se ela quisesse realmente até poderia, mas certos olhares e certos comentários velados obrigavam-na à um afastamento discreto, inclusive para que não fizesse cenas lamentáveis na frente de todos.

E assim Natália vivia a vida. Os seus pais preocupavam-se com ela. O seu maior incentivador era o pai – Doutor Leonardo – médico que via naquela garota a máxima realização do amor que sentia pela esposa – Dona Leonor – que, por sua vez, tinha na filha o maior presente que o Criador lhe dera abençoando-lhe o casamento e a vida.

Uma vez por outra, ambos aproximavam-se da filha enchendo-a de carinhos e de mimos, ao mesmo tempo que incentivavam-na a participar de tudo que a vida podia lhe proporcionar. Mas quando Natália simplesmente deixava de lado, Leonardo e Leonor sentiam-se impotentes e perguntavam-se onde haviam falhado; como era possível!

Eles preocupavam-se com o futuro da sua única filha e o seu maior tesouro. Mas, de nada adiantava tentarem se ela mesma não queria saber de si mesmo. Ano novo, vida nova. Natália com 19 anos havia passado nos exames de acesso para cursar medicina. O grande sonho dela e um orgulho para o seu pai.

Ela aguardou ansiosamente o final do período de férias para que as aulas se iniciassem e ela pudesse, finalmente, fazer algo que valia a pena. Algo que a deixasse cheia de amor próprio. Os corredores e as rampas da universidade eram um universo a parte para ela, pois tudo era muito novo, muito desconhecido e muito excitante. Ela sentia-se uma criança numa loja repleta de brinquedos novos e divertidos.

Achou que aquele era um novo mundo para uma nova vida! Ela sentia-se repleta de vida e repleta de esperança de algo realmente novo na sua vida. E foi nesse clima que, de repente, ela esbarrou em alguém. Pasta novinha, estojo de couro e tudo mais foram para o ar e depois para o chão, espalhando-se à sua volta.

Desesperada, ela imediatamente baixou-se para pegar as suas coisas enquanto as pessoas continuavam os seus caminhos sem se preocuparem em desviar-se das coisas caídas. E foi assim – também de repente – que ela percebeu que um par de mãos e braços estavam cooperando com a recolha dos seus pertences com o mesmo cuidado que ela dedicava à recolhê-los.

Mais surpreendente ainda sucedeu-se quando aquelas mãos másculas tocaram as suas entregando-lhe os seus materiais. Ela levantou o olhar e pensou que estava no paraíso e que havia um anjo a olhar para ela. Era, simplesmente, o rapaz mais bonito que Natália já havia visto na sua curta existência!

Levantaram-se e ela pode observá-lo melhor: alto, porte atlético (sem exageros), olhos azuis brilhantes, cabelos escuros e curtos, um sorriso arrebatador emoldurado por um rosto de galã de cinema; afinal, quem era ele? “Oi, desculpa pelo incidente … tu és caloira? Muito prazer, o meu nome é Simão … e o teu?”

Aquela voz! Linda, suave, doce, gentil e muito sensual! Que homem maravilhoso, pensou Natália enquanto tentava soltar a língua para responder. “Olá, …, obrigado… chamo-me Natália e sim, sou caloira,”

Ela mal conseguia entender como aquelas palavras saíram da sua boca. Simão sorriu para ela e disse-lhe que tomasse muito cuidado com os veteranos, pois, afinal, era a primeira semana – a semana das praxes - e meninas lindas como ela estavam em perigo. “Qualquer coisa, sou quinto anista, … se precisares, … bem, … de qualquer coisa é só procurar-me no Centro Académico, está bem?”.

Dizendo isso Simão aproximou o seu rosto do dela e deu-lhe um suave beijo na face. Natália ficou ruborizada, pois muito embora aquele não fosse o seu primeiro beijo, pelo menos era o primeiro vindo de alguém tão interessante.

Ela estava tomada por uma letargia que a impediu de qualquer gesto de retribuição, apenas restando-lhe observar Simão desaparecendo na multidão. E foi um grito fino e estridente que fez com que Natália caísse na dura realidade.

O grito provinha de uma garganta feminina muito potente que foi percebido não apenas por Natália mas também por todos à sua volta. O grito era proveniente de Amélia, a sua melhor amiga e filha do melhor amigo do seu pai.

Amélia era uma pessoa única: silhueta voluptuosa com algum exagero, rosto de criança safada e jeito de menino sapeca; tudo para ela era uma eterna brincadeira (às vezes de mau gosto, é verdade), mas que era minimizado pela sua alegria incontida que contagiava todos que com ela tinham contacto – inclusive Natália que sempre a considerara sua melhor amiga e única confidente.

Ela também estava iniciando o curso de medicina e ficou esfuziante ao saber que a sua melhor amiga estaria com ela por toda aquela longa jornada. Abraçaram-se e Natália suspirou aliviada ao perceber que Amélia nem sequer havia notado o ocorrido e o rápido encontro com Simão.

Dirigiram-se para a sala de aulas, sorridentes e trocando algumas fofocas atrasadas sobre o final do cursinho e o famoso “quem é quem” na Universidade. Ambas mal cabiam em si mesmas de tanta alegria e felicidade pela conquista obtida depois de muito esforço. Todavia, toda aquela alegria foi abruptamente interrompida pela aproximação de um grupo de jovens gritando e chamando os novatos para a praxe.

Natália assustou-se muito com aquele bando de vândalos vindo de forma alucinada em sua direcção e mais uma vez deixou as suas coisas irem ao chão. Estava em estado de choque! Pensou no que estava por vir: raspagem dos cabelos (que ela cuidava quase como um filho), tintas atiradas sobre o seu corpo, vestes rasgadas, e o pior de tudo! O maldito pedágio nas ruas em torno do campus.

Natália estava terrificada com as possibilidades que se descortinavam. Segurou forte na mão da sua amiga que também estava apavorada, rezando para que aquilo não fosse apenas um sonho. Dois rapazes musculosos seguidos de uma garota com ares de metida aproximaram-se de Natália e Amélia.

Olharam para ambas com um olhar de desprezo tão profundo que ambas podiam sentir nas suas almas. “E aí amiguinha! Como é que vai ser? De boa, ou à pressão? Será que as balofinhas vão querer encarar?”, a tal menina falava com extrema firmeza e ironia na voz, denotando que o desprezo pelas novatas não se resumia apenas á praxe, mas que também era algo discriminador; aliás, uma sensação que tanto Natália como Amélia conheciam muito bem (haviam convivido com esse comportamento abominável desde a tenra infância).

Um dos rapazes trazia nas mãos spray de tinta e o outro uma tesoura longa (daquelas usadas em corte e costura) e os seus olhares davam conta de que realmente estava por acontecer. Natália percebeu que os olhos da sua amiga haviam-se enchido de lágrimas e que ela estava prestes a desmoronar. Ela segurou fortemente a mão da amiga e olhou fixamente para o olhar da garota sinalizando que a coisa teria que acontecer através da força.

A menina, por sua vez, olhava desafiadoramente para elas demonstrando que estava confiante do resultado daquele embate do qual elas sairiam muito mais feridas no orgulho que na própria pele. “Opa! Parou tudo! Quem vocês acham que são para usar a praxe como instrumento de ameaça!” - a voz soou firme, alta e em bom tom sinalizando que provinha de alguém com autoridade.

Natália surpreendeu-se ao perceber que, embora num volume mais alto ela sabia quem era o dono daquela voz: era Simão que aproximava-se do grupo com andar resoluto de quem detinha controle da situação.

Ele chegou bem perto dos rapazes e com movimentos rápidos retirou das mãos deles o spray e a tesoura. Em seguida, olhou para a garota com um olhar autoritário e disse-lhe em tom severo: “Camila, eu já te disse que a praxe não pode ser usado para espezinhar os caloiros! Se eu te apanhar mais uma vez a fazer isso, nós vamos ter uma conversa séria quando chegarmos a casa… E quanto a vocês dois, dêem o fora antes que eu passe um corretivo que acabe com essa valentia com estas duas inocentes!”.

Natália mais uma vez estava em estado de êxtase – aquele rapaz era o ideal de qualquer garota! - olhando para Simão como quem olha para um ídolo. A tal Camila desferiu um olhar agressivo em direcção às meninas e deu de costas afastando-se como lhe fora ordenado. Quanto aos rapazes, eles ficaram a encarar o Simão por alguns segundos, mas seguiram os seus caminhos ouvindo o rapaz avisar-lhes que iria vê-los no treino.

“Desculpem esses idiotas meninas, … eu já havia dito que a praxe com agressão estava proibida… mas parece que eles se recusam a aprender, … desculpem a minha irmã também, ela passou por uma praxes dessas e acha que todos devem sofrer o mesmo que ela sofreu, … mas com ela eu converso em casa. E tu? Como é o teu nome?”

Tanto Natália quanto Amélia estavam em pleno êxtase com aquela visão do paraíso sob a forma de um homem lindo e gentil que não eram capazes de pronunciar uma palavra sequer. Mas Amélia percebeu o olhar azul brilhante de Simão fitando-a de maneira quase hipnótica que respondeu automaticamente: “Chamo-me Amélia, … e tu? Quem és?”.

A frase “chamo-me Simão” foi ouvida e apreendida para amenizar aquela situação inusitada (para dizer o mínimo!). Simão, meio que atrapalhado, pediu desculpas mais uma vez e despediu-se partindo em rumo à multidão de alunos que ainda procuravam esquivar-se dos veteranos em estado de insanidade.

Amélia teve que implorar para que Natália soltasse a sua mão, já que a amiga havia apertado tanto os dedos dela que eles pareciam que iam explodir feito balões insuflados de ar.

A tarde decorreu com a Amélia a desfiando um questionário de perguntas destinadas à sua amiga com o fito de saber como ela havia conhecido aquele rapaz lindo. Natália contou-se, então, do acontecido quando da sua chegada à Universidade, mas, ao que parecia não fora o suficiente para que a sua amiga interrompesse o seu interrogatório que parecia não ter fim.

No final da tarde, quando as aulas daquele dia haviam terminado, Amélia ofereceu uma boleia para a amiga que, além de surpresa ao saber que a sua companheira estava de carro, ficou ainda mais feliz ao saber que o carro em questão fora presente do pai da Amélia como prémio pela conquista da vaga universitária. E obviamente Natália aceitou de pronto já que ambas moravam próximas uma da outra. Porém, quando estavam chegando ao local onde o veículo se encontrava, foram surpreendidas mais uma vez pela atrocidade dos veteranos.

 
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